
O meu pai, pelo contrário, tinha sido um homem discreto e modesto. Tinha
passado a maior parte da sua vida na Irlanda rural, onde tinha sido ministro de
uma pequena igreja. Em segredo, tinha-me sempre sentido decepcionado com a sua
falta de ambição. Era-me difícil compreender a sua relutância em subir ou
melhorar na vida.
Quando ele faleceu, apressei-me a regressar à Irlanda para o seu funeral.
Celebrado na pequena igreja onde passara a sua vida, supunha-se que iria ser
uma discreta reunião de família. Transformou-se, porém, em cerimônia nem
discreta nem restrita à família. Fiquei estarrecido com as centenas de pessoas
que, em resposta a uma notícia dada com tão curta antecedência, acorreram de
todos os cantos das Ilhas Britânicas. Quase todos quantos ali estavam se
acercavam de mim, dizendo-me quanto o meu pai tinha significado para eles – e
quão fundo tinha tocado as suas vidas.
Nesse dia, coloquei-me diante da sua sepultura, e perguntei-me
"Quantas pessoas viriam ao meu funeral? Quantas vidas teria eu tocado?
Quem me conhecerá tão bem como todas estas pessoas conheciam este discreto
homem?
Quando regressei a Londres, era um homem profundamente mudado. Mais
adiante nesse ano demiti-me do Professorado de que era titular. Ainda mais
importante, desisti da pretensão que tinha de ser alguém diferente daquilo que
realmente era. Desisti de procurar ser um importantão. Decidi fazer o que
estivesse ao meu alcance para realizar uma genuína diferença na vida das outras
pessoas. Se o consegui, só o meu funeral o irá dizer.
Quem me dera poder dizer ao meu pai que ele foi o meu maior professor.
Charles Handy, Autor e Filósofo em Ciências Humanas, Londres
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