terça-feira, 22 de julho de 2014

O Que É Realmente Importante na Vida

Quando eu tinha quarenta e poucos anos, faleceu o meu pai. A sua morte deteve-me e mudou-me a vida. Antes de ele falecer, eu era um importantíssimo e prestigiadíssimo Professor da London Business School – ensinando jovens rapazes e raparigas ambiciosos, publicando artigos com grande receptividade, escrevendo best-sellers econômicos, voando pelo mundo, dando conferências nas mais importantes universidades, e prestando consultoria a empresas de grande nome. Estava no auge. E devo admitir que estava bem satisfeito comigo próprio.
O meu pai, pelo contrário, tinha sido um homem discreto e modesto. Tinha passado a maior parte da sua vida na Irlanda rural, onde tinha sido ministro de uma pequena igreja. Em segredo, tinha-me sempre sentido decepcionado com a sua falta de ambição. Era-me difícil compreender a sua relutância em subir ou melhorar na vida.
Quando ele faleceu, apressei-me a regressar à Irlanda para o seu funeral. Celebrado na pequena igreja onde passara a sua vida, supunha-se que iria ser uma discreta reunião de família. Transformou-se, porém, em cerimônia nem discreta nem restrita à família. Fiquei estarrecido com as centenas de pessoas que, em resposta a uma notícia dada com tão curta antecedência, acorreram de todos os cantos das Ilhas Britânicas. Quase todos quantos ali estavam se acercavam de mim, dizendo-me quanto o meu pai tinha significado para eles – e quão fundo tinha tocado as suas vidas.
Nesse dia, coloquei-me diante da sua sepultura, e perguntei-me "Quantas pessoas viriam ao meu funeral? Quantas vidas teria eu tocado? Quem me conhecerá tão bem como todas estas pessoas conheciam este discreto homem?
Quando regressei a Londres, era um homem profundamente mudado. Mais adiante nesse ano demiti-me do Professorado de que era titular. Ainda mais importante, desisti da pretensão que tinha de ser alguém diferente daquilo que realmente era. Desisti de procurar ser um importantão. Decidi fazer o que estivesse ao meu alcance para realizar uma genuína diferença na vida das outras pessoas. Se o consegui, só o meu funeral o irá dizer.

Quem me dera poder dizer ao meu pai que ele foi o meu maior professor.

Charles Handy, Autor e Filósofo em Ciências Humanas, Londres

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