quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O que nos move?

Por Luiz Eduardo Conti - Psicólogo, Coach e Professor

A motivação básica do ser humano é a felicidade. Tudo o que fazemos, qualquer decisão que tomamos (enfrentar ou fugir, agradar ou agredir, fazer ou esperar, aprender ou não...) visa o nosso bem-estar. Não importa quão ética será nossa atitude, o fato é que queremos uma vida boa (quando o bandido rouba ele supõe que fazendo isso sua vida será melhor). Óbvio que escolhas equivocadas acabam provocando mais problemas do que prazer. 
E por que as pessoas escolhem caminhos que, ao final, não lhes promovem bem-estar?
Porque não sabem, ainda, o que realmente importa em suas vidas. 
Já se tornou um tanto clichê o joguinho de palavras que afirma que a felicidade está no “ser” e não no “ter”. No entanto, para muita gente, possuir algo material (um carro, uma casa, uma joia) ou uma imagem social destacada ainda é um fator que supostamente promove felicidade. Clichê ou não, o fato é que a vida boa depende muito mais do “ser”, e quem afirma isso é a Psicologia, mais precisamente a Psicologia Positiva.
No final da década de 1990, surgiu nos EUA um movimento dentro da psicologia que defende a pesquisa dos fatores que promovem bem-estar. Isso pode parecer óbvio, mas a psicologia, desde o final da segunda grande guerra, tem focado seus estudos na doença psicológica e não na vida boa. Hoje em dia, sabe-se muito sobre depressão, ansiedade, fobias e pânico. Muitas pessoas que sofrem com esses males psicológicos têm seus problemas aliviados graças a esse foco e ao grande avanço obtido.
Martin Seligman, presidente da APA (American Psychological Association) à época, levantou uma questão importante: a ausência do sofrimento psicológico implica automaticamente na presença felicidade? Ou perguntando de outra maneira: para ser feliz basta que a pessoa não esteja psicologicamente doente?
A ausência da doença é certamente uma condição importante para a vida boa, mas não a única. E quais são as outras condições? Esse é exatamente o objeto de estudo da Psicologia Positiva. Seligman definiu assim esse novo campo de pesquisa comportamental: “... compreender e promover os fatores que permitam que pessoas, comunidades e organizações floresçam”. Em suma, a psicologia também precisa focar nas virtudes e nas potencialidades do ser humano.
Trata-se de uma linha de pesquisa relativamente nova (do ponto de vista da ciência, muito nova!), mas já fez algumas descobertas interessantes e todas elas apontam na direção de que o “ser” é muito mais importante do que o “ter”.

Para facilitar a compreensão, vamos considerar o Tripé da Vida Boa:
Autoconhecimento              Sentido de vida                 Relacionamentos positivos

De maneira resumida, viver bem passa pelo processo de autoconhecimento (quais são os nossos valores e como lemos os fatos que afetam nossas vidas cotidianamente?), pela clareza do sentido de nossa existência (qual é a nossa missão e onde queremos chegar – nossas metas?) e pela qualidade de nossos relacionamentos (de modo geral, são construtivos/gratificantes ou infecundos/exaustivos?).

O processo de autoconhecimento requer o conhecimento, a análise e a prática dos seguintes elementos: 
  • Virtudes e valores, 
  • Inteligências múltiplas, 
  • Resiliência, 
  • Engajamento,
  • Mindset (mentalidade),
  • Positividade,
  • Esperança,
  • Autoconfiança

O sentido de vida implica na identificação da essência da própria vida. Possuir clareza sobre o que nos energiza e move é imprescindível para o nosso bem estar. Trata-se de enunciar uma missão de vida pessoal, que justifique nossas ações mais importantes, e uma visão de futuro, que referencie onde queremos chegar. A missão é permanente, não se altera ao longo da vida. A visão é renovável, alterando-se quando chegamos lá ou quando algo importante modifica as circunstâncias de nossas vidas antes de chegarmos lá.
Praticar nossa missão e buscar nossa visão é a essência da vida boa! Para tanto, é necessário potencializar nossas qualidades pessoais, identificadas no processo de autoconhecimento. 

Relacionamentos positivos. Somos seres gregários. Precisamos da companhia de outras pessoas para sobreviver e para sermos felizes. A felicidade nunca será alcançada se estivermos sós. A vida boa só será possível convivendo. Portanto, a qualidade de nossos relacionamentos justifica sua presença no Tripé da Vida Boa.
Ninguém consegue ser feliz o tempo todo, afinal os problemas são inevitáveis, mas é possível viver bem aproveitando as boas e as más experiências. 

Nos próximos textos abordarei cada um dos elementos do Tripé da Vida Boa, esclarecendo conceitos e sugerindo técnicas que poderão tornar a vida mais agradável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário